segunda-feira, 29 de outubro de 2012

O poema incompleto da rosa

                     Agora eu era
                     rosa despedaçada
                     despedaçada e bela
                     Rosa sozinha e pálida
                     Rosa singela
                     aos prantos
                     por tua rejeição

                     Bela rosa amarela
                     agora não mais era
                     era ensanguentada
                     vermelha ainda viva
                     uma rosa inconformada
                     (e de espinhos inocentes)
                     com tanta ingratidão

                     Com as pétalas
                     todas despedaçadas
                     triste vermelha rosa,
                     de raiva eu chorava
                     pelo seu silêncio
                     e pouca consideração

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Boba paixão-balão

                    Tão inútil deixar levar-me por teus beijos
                     Por teus braços
                     Por teus sorrisos
                     Por teus enlaços

                     Pelo teu descaso...
                     Pelo sumiço

                     Se esse sentimento é vazio, vão
                     é como um belo balão
                     Tão bonito e cheio de nada
                     que pode ir às alturas!

                     Mas veja, que logo sua chama acaba
                     Se extingue, desaparece
                     ou se mata
                     e queima o balão inteiro
                     (a própria chama o destrói)

                     Tua paixão é balão
                     Sem sentido, sem direção
                     Sem segurança, sem consistência

                     Só a beleza infantil da falta de compromisso
                     e da ingenuidade
                     A chama que flutua na noite escura
                     sem saber o que espera o amanhã
                     e que talvez deixará saudade...

                     E que me importa se nos destruirá com nossa própria chama?

                     Deixe-a ser linda até que decida
                     Se desaparecerá e retornaremos ao chão
                     Ou se nos levará ao inferno no fim de sua vida

                     Deixe que exista nossa paixão-balão
                     Tão bela e colorida pela noite escura
                     E deixe que essa chama leve-nos às alturas
                     Acabe ela agora ou só quando virarmos terra

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Preciso dizer-te, mascarado

                  Tudo pára, tudo cinza. A notícia que chega aos meus olhos não permanece ali; percorre minha espinha, meus braços, minhas pernas... Essas notícias me espancam tão suavemente que me ponho cansada sem perceber, quase sem dor... É como se me chamasse, dama sonolenta e dolorida, para dançar. Eu aceito; sou uma dama e não se nega uma dança. Essa dança da anestesia torna minhas mãos impotentes, meus olhos fugitivos, meus pés desvalidos. Sou só meu estômago agonizando o que surge na mente.
                    Minha boca, reunindo os últimos dos esforços, tenta avisar-te algo. É uma advertência que tento fazer de tempos em tempos, de maneira sutil, mas ela nunca torna-se clara. Diabos. Acontece que a coragem foi anestesiada junto com o coração, nessa dança anestésica dos outros sentidos. Hei de tentar: a verdade é que não sou uma dama, eu insisto. Eu odeio ter que ser uma dama. Eu odeio não poder ser uma dama. Talvez eu só não quisesse ser nada, me entende? Não enxergo seu rosto... Será que me entende? A responsabilidade é a sensação dolorosa da picada da vacina das obrigações... E eu odeio perder o controle do meu corpo através dessas malditas drogas. Eu odeio perder a razão, a minha razão, única capaz de me manter sã nesse maldito mundo no qual me colocaram sem que eu fosse humanamente consciente para recusar. Acho que estou tendo vertigens... São as drogas da obrigação que aplicaram em mim, com certeza. Já não sei como dizer-te porque já não sei o que é tudo isso... Não te enxergo...
                    Não consigo ver teu rosto porque há um neblina que torna nossos egos, da forma bruta, foscos, e difíceis de serem vistos. Eu tenho tanto amor por essa neblina porque ela se mostra tão bonita, misteriosa e funcional quando todos nós dançamos, e esconde meu rosto quando não visto a máscara da razão da expectativa, e tudo torna-se um ensaio. Um ensaio no qual, embora eu não seja completamente eu, abrimos canais humanos e simplórios da identificação. É o que eu digo, eu quero tirar a máscara, é o que eu mais quero! Mas o ego é um rosto disforme que, se nem ao menos viu um espelho, não merece ser visto pelos demais rostos mascarados. Nesse aventuroso baile, entre danças imprevisíveis, o vento sopra a nosso favor e abrem-se brechas nas neblinas onde trocamos olhares sinceros e egocêntricos, mesmo através de máscaras. Eis nosso canal humano, vívido, conveniente, cotidiano: lindo.
                     As vezes acabamos tomando as máscaras pelos egos, e, ora!, as máscaras são belas! Não são simples assim... É verdade que tu, se quiseres dançar mais de um vez com alguma dama ou um cavalheiro, ou quiseres dançar continuamente, vais conviver na maioria das vezes com a máscara. Mas, se a dança tomar uma sincronia e uma beleza surpreendentes, ou melhor, se os dançarinos estiverem maravilhados com a experiência que é a sua dança, então, rapaz, ouça o que te digo (os olhos de tão viciados entre si, entre lábios entreabertos de uma deliciosa experiência surpreendente, e a valsa em seu ritmo mais lento possível), as mãos se desatarão para começarem uma nova dança, e, em um ritmo milimetricamente sincronizado, com os olhos vidrados de paixão, tirarão rapidamente as máscaras do seu parceiro, verão seu rosto desfigurado e hão de compreendê-lo do jeito que são esses rostos - linda e tragicamente terríveis e vergonhosos! É um momento em que os egos, por detrás das máscaras, transformam-se e desfazem-se de seus sentimentos egocêntricos, buscando sintetizar naqueles sorrisos correspondentes, causados pelo compasso da dança, uma semelhança entre seus rostos, uma semelhança na formação deles, uma semelhança nos sentimentos de pudor e insegurança que os fizeram colocar as máscaras. Eles tentam se comunicar! Eles tentam conversar, não através de palavras, mas de gestos, sobre os questionamentos que fazem ao vestirem o rosto, questionamentos sobre quem são eles verdadeiramente e sobre aquilo que são as malditas máscaras. Conversam entre calculados gestos, num diálogo só de afirmações e revelações, sobre como queriam que alguém admirasse seus rostos e os compreendesse, não os julgasse.
                         As vezes as máscaras caem sem querer, e seu parceiro há de compreendê-la. Se não compreender e abandoná-lo na dança, significa que nem sabe que veste, ele mesmo, ele próprio!, uma máscara, e que um dia ela cairá. As máscaras caem, nós as tiramos. Mas é tolice negá-las, elas fazem parte de nós e são essenciais para continuarmos dançando e mantermos o baile.
                        Mas ainda não consegui que compreendesse minha advertência... Meu Deus, como é difícil! O que eu quero dizer-te é que as vezes, por dentre a neblina, tomamos a máscara pelo rosto nu, o que é um tremendo engano. As vezes julgamos que conhecemos e que adoramos todos os traços daquele rosto desmascarado. A mostra do rosto só é saudável quando há reciprocidade. Quando um julga amá-lo e o outro insiste que os dois estão mascarados, é provável que um tenha se embriagado, sozinho, com o vinho da ilusão e esteja percebendo a dinâmica à sua volta de maneira equivocada... É provável que um deles ainda não tenha entrado no compasso da dança e não se sinta completamente à vontade perante o canal que se abre dentre os olhares das frestas de neblina. É provável que não se sinta à vontade porque sabe a ressaca que o outro sofrerá no dia seguinte com demasiado vinho ilusionês de hoje, e sabe qual máscara vai representar esse porre. A própria.
                      Se os convidados do baile concedem a honra da dança, significa que querem se divertir, viver e ver uma fresta através da neblina, abrir o canal. Nem sempre é tão fácil, mas muitas vezes a dança se vale pela desafio de entrar no compasso. Eu como dançarina me esforço, e gosto desses olhares das brechas. Mas me sinto tremendamente intimidada quando julgam minha máscara pelo meu rosto.
                       Meu rosto não é de dama. Rosto nenhum é de dama. Rostos representam menos o gênero do que a máscara... Ou pelo menos representam o gênero de forma diferente como eles nos são apresentados nessa sociedade doida. Se não costumo mais ornamentar minha máscara fazendo-a parecer comum, direita, encaminhada, é que não vejo necessidade ao olhar-me com ela no espelho, mas não significa que seus defeitos são os da minha face. Esses defeitos que vês na máscara são superficiais, alternativos, dir-se-ia até que são opcionais; questão de gosto. Alguns até gostam. Mas não são meus reais defeitos; não estão presentes nela meus reais anjos e meus reais demônios.
                     Se vamos nos dispor a tentarmos alcançar o rosto, deixemos o vinho da futura decepção de lado e tiremos esse brilho no olhar. Tenhamos calma, e desapeguemo-nos dessas máscaras egocêntricas que são consequência da vergonha do nosso rosto desfigurado. Admitamos: não somos cavalheiros e nem damas; somos homens. Mas é um processo vagaroso e demorado, e confesso que não tenho força o suficiente para assumí-lo. Não por essas injeções e pancadas (não só por esses fatores anestésicos); eles, se fossem comparados à minha vontade de seguir esse caminhos, seriam nada. Ou talvez sejam eles que dificultem sim, mas a força ainda não veio em mim, à tona, capaz de ignorar essas apunhaladas pelas costas que eu mesma me dou.
                  Dispenso aqui qualquer juízo de afeição; apesar de estar bem, minha cabeça dói, e tudo nela é processado com uma frieza objetiva, que só pretende esclarecer as coisas, sem cunho emocional. Estou sã. Qualquer vertigem e efeito passou. Só quero que saiba que não sou uma dama, e não me reconheço unicamente pela máscara. Sei que possuo um rosto, e estou tentando descobrí-lo. Primeiro, sozinha.
                   

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

brincadeiras experimentais


IV


                     Não seria assim tão mal
                     ser matemática e pensar como tal
                     Pensar em mim mesma, então
                     como uma previsível equação
                     Tudo exato e metódico
                     Buscando apenas a solução

                     Poderia não saber o caminho
                     mas saberia que ele existe
                     E só por ter um ideal, e seguí-lo
                     Não me poria assim,tão triste


III

                     Tua idealização é castelo de areia
                     desmoronará com ondas da verdade
                     Do impiedoso mar que é o tempo
                     que de consolo só deixa saudade

                     Cada grão que monta o belo castelo
                     nesta instável e frágil construção
                     gosta de ir sempre dançando
                     é volátil toda ilusão



II

                     Deduzi então que desistiu de mim
                     das minhas dunas de frívola afeição
                     do meu deserto tão caloroso e quieto
                     do meu sorriso seco perdido no sertão

                     Sabes que lhe convém voar pra cá
                     Fazer-se água e aparecer como miragem
                     mas em vez queres ser japim para voar
                     e saciar minha sede já não tens vontade



I

                     São teus beijos que inflam meu ego
                     e iludo-te dando esperança
                     Fingimos tão bem sermos cegos
                     sorrindo e prosseguindo a dança

                     Paciência é teu nome do meio
                     motivado por lábios e mãos
                     Luxuriosa esperança tão tola
                     Fantasias que vem em vão

                     Gostaria que fosses poeta
                     apaixonasse mesmo sem amor
                     pois amar apenas os meus beijos
                     faz de ti meu amor sem valor

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Se eu talvez

                     Se eu talvez parasse para observar
                     durante um segundo
                     enquanto choviam gotas de flores
                     sonhos de pétalas por cada instante do meu corpo...

                     Eu sorriria.
                   
                     Sorriria e veria que talvez eu pudesse ser tudo e
                     Meu Deus!

                     Quão grande é a alma dos que tem a mente pequena?
                     Quanta angústia tem na alma daqueles de mente grande?

                     Já não sabemos discernir as emoções e que rumos daremos a elas...

                     Talvez se as plantássemos...
                     Não destruiriam nosso solo?

                     E se as deixássemos esperando com um olhar de adeus
                     e um lenço bordado nas mãos,
                     enquanto iríamos para a guerra?

                     Que tal brincarmos de sermos nossos pais para sempre?
                     Que tal brincarmos de sermos normais
                     e no segundo final trocarmos um único olhar
                     E então saberemos que somos aquilo que não quisermos ser
                     Ou que não queriam que nós fôssemos...

                     Esperá-la chegar e levar-me
                     como alguém que viveu
                     Como alguém que existiu e permanece na existência
                     Enquanto não me importo em gastar-me em vida agonizante

                     Estamos sozinhos?


                                                   para minha irmã

Poema do luto

                     Não chorei por amares Maria
                     Nem mesmo chorei por me enganares durante tanto tempo
                     Não chorei pelos meus gritos secos
                     E não gritei pelo desespero
                     (de não te ter)

                     Não chorei pela perda
                     Não chorei por ti
                     Não chorei sequer pelo que fizeste comigo
                     Não chorei por tua crueldade
                     Não chorei por tuas atitudes desumanas
                     Não chorei pelos homens
                     (Já era previsível.)

                     Chorei por mim.

                     Não chorei pelo coração ensanguentado,
                     mas sim por perceber que era minha mão que segurava a navalha
                     Era minha mão que o executava
                     E agora, nesse milésimo de segundo de consciência
                     era ela mesma que poderia salvar-lhe a pele
                     Sanar-lhe a carne.
                     Chorei por mim.

                     Chorei pelo sacrifício da minha própria criança
                     Chorei pelo rubor e pela vergonha
                     (que nunca foi vergonha
                     logo tornou-se calma)
                     
                     Chorei, chorei, chorei
                     Para respirar e, depois, na calmaria
                     sorrir.

                     E esperei pela próxima ilusão.

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Massacre do tempo

                     Massacra-me o tempo:
                     Obriga-me à consciência
                     Leva embora a inocência
                     Esquece-se do que há por dentro

                     Espreme-me o tempo:
                     Faz-me passar pelas frestas
                     tão estreitas do entendimento,
                     provando da vida as arestas

                     Tempo é pura correnteza
                     e toda gota salgada
                     é um instante de cada
                     movendo o mar e a areia

                     Lágrimas do esquecimento
                     Do que o tempo nos causa
                     Do que nos leva com o vento
                     Provoca e esconde o tormento

                     O tempo tem tom travesso
                     Gargalha sem piedade
                     da agonia da nostalgia
                     daqueles que tem saudade

                     O tempo é bom professor
                     Faz-nos aprender sozinhos
                     sempre seguindo o caminho
                     a conhecer e esquecer o amor

                     Já vi que o tempo passou
                     e enquanto me distraía
                     o tempo tocava minha vida
                     e eu chorava e eu sorria

                     Meu tempo, minha certeza
                     só peço que deixe saudade
                     nossa antiga felicidade
                     Fotografia sobre a mesa

Dinâmica do físico

                     Nossa fusão sempre foi física
                     porque todo interesse é estético
                     Caso sistemático da cinemática
                     que de estático só tem o sentimento

                     O ilógico olhar que é tão lindo
                     sem ao menos um fútil fundamento
                     é amável coração com fundo falso
                     que para mim não possui preenchimento

                     Qualidades de um gostar apenas sólido
                     Sem amor, sem horror, sem pensamento
                     Realizando o que é só biológico
                     Ignorando o humano e o tormento

                     Cada vão movimento que fazemos
                     É tão doce e é tão complementar
                     É uma dança, é uma canção à dois
                     Em um ação-reação em par

A dor incomunicável

pequena brincadeira na tentativa de dar ritmo e humor a qualquer dor

                     A dor é minha,
                     Intransferível
                     Não há quem possa
                     compartilhar

                     O vazio interno,
                     Inenarrável
                     Mesmo que eu tente
                     me explicar

                     A sua cura
                     não sei de fato
                     Mas sei, só eu
                     posso criar

                     Não é com a erva
                     que vem do mato
                     que o coração
                     vai se curar

O pássaro branco do acaso

                     O pássaro branco do acaso
                     puxou o laço de fita cor-de-rosa que prendia o meu cabelo
                     Não percebi

                     Quando me vi já estava descabelada
                     Já não havia mais ordem, doçura ou candura em meu rosto
                     Eu cresci
                   
                     O rubor infantil e os olhares ao léu transformaram-se nas
                                                                          [lamentações de viver
                     e na alegria em estar vivo

                     Tudo isso graças a um maldito pássaro...
                      Eu o agradeço!

                     A benção da desordem me levou a mim mesma
                     Me trouxe a vida
                     Me trouxe à vida

                     A travessura do pássaro me fez sentir meus cabelos
                     (Quem sabe não fui eu que havia o chamado?)

                     Se não fosse o bendito pássaro,
                     nunca saberia como também sou bela de cabelos soltos
                     Apesar da inocência ser nostálgica...

                     Uma vez sem o laço,
                     nunca mais prenderás o cabelo!

                     A ingenuidade é um rabo de cavalo.

Do museu de arte contemporânea

                     Caio nas tuas notas manchadas de Sol
                     Luz que acende e cega e se desdobra num sorriso
                     São as ondas claras do teu olhar ensolarado
                     A expectativa que traz sabor aos sentidos

                     Entendi que a tarde era mesmo azul
                     A leveza do céu reflete-se no mar
                     Como reflete o anseio no homem, que é
                     A vontade de ter onde não se pode chegar

                     Os beijos são aquelas estranhas obras que vejo
                     Não pense! Não se entende! Se vê e se sente
                     São as obras do artista que se chama desejo
                     E o corpo é ator que interpreta a mente

                     O vento calmo que acaricia o rosto
                     É a alegria discreta que não vais perceber
                     É lembrança futura do início de agosto
                     Que ainda não sabes, mas não vais esquecer

Nota introdutória

               Primeira nota aos bem dispostos que decidirem se aventurar por esses textos quase inúteis

                Começo esse projeto de nada, essa tentativa da exposição de um pedaço interno meu, com algumas breves advertências.
                É muito provável, até por ser algo natural, o julgamento, através dos textos, da que vos fala: creio que seja um equívoco dos que o fazem, não só por considerar o julgamento uma imprudência visto que nenhum homem é digno de julgar outro enquanto não se encontra nas mesmas circunstâncias deste (como próprio homem, excluo daqui autoridades que zelam pelo excelente convívio harmônico desta nossa ilustre sociedade), mas pelo simples fato de que não vem exatamente de mim, Luiza Carvalho, esses textos aqui presentes, mas de facetas minhas, eu-líricos meus que são muitas vezes espontâneos, instantâneos, momentâneos.
                 É inegável que haja uma identificação entre a minha pessoa e eles, ora essa, eles surgiram de mim! Eu os criei. Mas por serem frutos de sentimentos pulsantes, que outrora entalaram minha garganta e imploraram-me que os transformasse seja em prosa, poesia, ideias, são muitas vezes exagerados, dramáticos, raivosos, talvez sutis demais, meigos, apaixonados, apaixonados! São febris de paixão esses sentimentos geralmente efêmeros, filhos de crises existenciais e dúvidas que permanecem, e muito provavelmente permanecerão. Eu deixo que se manifestem, dou-lhes a voz, mas não significa que eu mesma os creia ou creia que tenha neles algum sentido. Eu apenas dou liberdade às minhas sensações, para que alguma razão que haja em mim disseque-as e tente tirar disso reflexões, epifanias, novos sentimentos, e assim novas sensações. E permaneço meio assim. (Assim como mesmo?)
             Explico ainda meu pequeno título: Na verdade não há o que se explicar. Esses últimos meses vem me provando que quanto mais consciência, mais dor. Orgulhemo-nos de sermos ingênuos; agradeço minha ingenuidade e lamento (lamento?) minha insignificância perante a... A isso tudo.
              Felizes daqueles que não entendem nada. Feliz de mim, mesmo sem entender que ainda o sou... Afinal, tudo é questão de referencial.