sábado, 31 de janeiro de 2015

marimã

Me beija! Sua estúpida,
Será que não reparas
em quanto somos ridículas
lutando sobrepostas
rasgando seda por nós próprias?

Me olha!
Força-me os pulsos
os braços
esses tão iguais aos teus
fortes por resistência
frágeis por cultura.
À face e aos olhos
beija-me ou acaricia
lembra-te de que fomos instruídas
à mesma covarde maneira.

Despe-te e te sente livre,
reflexo meu.
Por que nutrimos o pré desentendimento
pela rechonchuda veia da ignorância?
Não esquece que me conheces!
Não finjas que não sabes que sou igual a ti.

Até o teu olhar perdido
vazio, de solidão
compõe meu peito.
E meus sorrisos frouxos
compõe os teus cabelos,
teus dedos e cotovelos.

Guarda tuas falas doces para mim,
que sou tua irmã,
que piso nas mesmas terras que ti.
Não temos a mesma história,
mas compartilhamos a mesma vil estrada.
Lembra-te disso,
meu amor.

sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Teto Preto

Caiu o tempo
Desfez-se ele
Escorreu lamurioso pela face
pelos picos, vivos precipícios
A orelha
A ponta do nariz
O queixo
dos cílios pingaram as gotas
(mas não lágirmas: instantes)
e na boca permaneceu algum
tenro gosto,
vulgarmente: a saudade

Trovões que soam só dentro do corpo
e os ouvidos não captam;
Listas claras de instantes
no céu escuro dos olhos cerrados:
era o tempo que bradava
ter passado
E o coração nem se toca.

O coração nem se toca e nem sofre
fica lá estirado
dormindo
esquecido de viver
E o tempo-chuva,
respingando pelo corpo,
sendo gasto.
todas as gotas 
acabadas no chão,
agora inválidas.

Mas o tato não está vivo
e o úmido não desperta.

O molhado.

É de noite, e a vida adormece.
A minha vida dorme.