terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Puxastes meus cabelos

Puxastes meus cabelos já soltos
E, sem percebermos,
caíram deles milhares de grãos de areia
antes, docemente adormecidos
na praia que, há tempos, não via a luz do sol

"Meu Deus, há uma praia em mim!"

Foi olhando nos teus olhos que o sol despertou, novamente,
na praia do mar da minha mente.

Tu eras indiferente.
Indiferentemente belo.

Talvez minha única necessidade seja me embriagar com a tua água salgada
para que eu possa, satisfatoriamente, morrer de sede
Ou talvez eu tenha, simplesmente, um medo irracional
de ser alérgica ao teu sal...

Mas, ora, já não estou eu com os pés na tua praia
sentindo teu calor sobre a extensão de minha pele
mesmo que não sinta tua areia àspera pelo meu peito?

Chegar ao teu mar é uma ilusão,
mas não lamentaria os profundos arranhões pelos grãos originados de antigas pedras,
desgastadas por tuas repetitivas ondas...
Esses minúsculos pedaços de existência!

(Que eu desconheço, porque fazes questão de evitar... Mas me apetecem tanto, mesmo com tamanho receio!)

Sei que vamos acabar sorrindo.
E ignorando.

Puxastes meu cabelo,
e agora sinto a areia sugando minha água,
sangrando meu peito.

Se vires gotas de mar escorrendo pelo meu rosto,
não pensa que causaste o surgimento de tais grãos.
Eles estiveram o tempo todo em mim,
mas foi através de ti que os descobri.

Não queira acabar com eles! Varrê-los de mim...
Deixe que eu mesma busque incansavelmente por ostras
na imensidão do meu próprio oceano
para transformar esses pedaços de aflição em pérolas.