Eu não sei em que momento eu refleti e decidi que gostaria... Meus artelhos apenas se contraíram um pouco menos do que o normal quando se depararam com a enorme e monumental porta de possibilidades que dependia da minha mão para ser aberta. Por não existirem tantas dúvidas e tantas borboletas no estômago, minha mente pôde tranquilizar-se e não se ocupou em relutar por elas.
Apenas os dedos do pé retorceram-se, e as decisões foram tomadas com tamanha espontaneidade, para alguém tão cheia de labirintos internos, que o desenrolar dos fatos pareciam bolhas de sabão, excluindo todo o sentido de responsabilidade dessas sensações novas. A verdade é que não existiam fatos, tão pouco aqueles antiquados e comuns pensamentos niilistas do que tudo aquilo poderia ser. Não haviam definições, a dinâmica dos acontecimentos e sensações era como a brisa: amoral, envolvente, gelada, refrescante e fluidamente sorridente. Era a brisa, que passava porque queria. Era brisa porque era.
A impessoalidade, a falta de emoções dramaticamente humanas, o ego conveniente e positivamente disfarçados nas poucas afeições tornavam os gestos dotados de uma sinceridade límpida e cristalina. A ausência da paixão dava às intenções a forma física e terrestre, tão verdadeira para ser sentida não só no corpo, como também no peito. Os sorrisos eram honestos, eram a intenção de ser feliz sendo único, alegre pelo desapego e pelo entendimento. Nós só queríamos sorrir.
Dentre aquele antigo quadro escabroso onde se encontrava seu coração, vislumbrava, pela primeira vez, a manifestação da felicidade na forma sucinta de vida. Não era de maneira alguma rasa ou superficial, subjugada; era a opção pela ingenuidade sábia, a prova da consciência da ignorância e de seu papel de aprendiz, que é feliz a partir da falta de muitas ações. É feliz a partir do apenas ser.
Saíra do porão úmido e escuro onde suas dúvidas tomavam formas gigantescas e pareciam lhe engolir, onde suas fraquezas iniciadas da ignorância serviam de algemas a seus pés. Sua única atividade naquele lugar era pensar em quão horrível era estar lá, e que talvez nunca pudesse sair. Pertenceria ela ao lugar? Enlouqueceria lá? Gritaria até morrer? Ou se conformaria com o seu destino?
Os artelhos contraídos demonstravam vestígios de uma política antiga do receio, do bloqueio, do medo, do esconderijo. Mas essa ação dos dedinhos foi tão sutil que não houve grande diferença quanto a ela, e saiu desse mesmo corpo uma sensação boa de querer experimentar, arriscar.
Todo esse período enclausurada, usufruindo sem piedade da mente, da razão e do ceticismo fora-lhe, no final, de muita utilidade. Quando se permitiu deixar tudo de lado e parar para o nada, para ser, para respirar, notou que logo a frente, do lado de fora da sua mente, havia a chave daquelas correntes. Saiu de lá, finalmente! Mas que maldito tempo em que estive presa... Mas será? Nunca avaliaria tão bem a felicidade natural e inexplicada (ou melhor, nunca a sentiria tão bem), nunca seria tão sensível. Nunca optaria pela ingenuidade sábia, enquanto a ingenuidade ilusória, através da falta de discernimento, lhe seria imposta.
E agora ela fechava os olhos e sorria.
terça-feira, 27 de novembro de 2012
segunda-feira, 29 de outubro de 2012
O poema incompleto da rosa
Agora eu era
rosa despedaçada
despedaçada e bela
Rosa sozinha e pálida
Rosa singela
aos prantos
por tua rejeição
Bela rosa amarela
agora não mais era
era ensanguentada
vermelha ainda viva
uma rosa inconformada
(e de espinhos inocentes)
com tanta ingratidão
Com as pétalas
todas despedaçadas
triste vermelha rosa,
de raiva eu chorava
pelo seu silêncio
e pouca consideração
rosa despedaçada
despedaçada e bela
Rosa sozinha e pálida
Rosa singela
aos prantos
por tua rejeição
Bela rosa amarela
agora não mais era
era ensanguentada
vermelha ainda viva
uma rosa inconformada
(e de espinhos inocentes)
com tanta ingratidão
Com as pétalas
todas despedaçadas
triste vermelha rosa,
de raiva eu chorava
pelo seu silêncio
e pouca consideração
terça-feira, 9 de outubro de 2012
Boba paixão-balão
Tão inútil deixar levar-me por teus beijos
Por teus braços
Por teus sorrisos
Por teus enlaços
Pelo teu descaso...
Pelo sumiço
Se esse sentimento é vazio, vão
é como um belo balão
Tão bonito e cheio de nada
que pode ir às alturas!
Mas veja, que logo sua chama acaba
Se extingue, desaparece
ou se mata
e queima o balão inteiro
(a própria chama o destrói)
Tua paixão é balão
Sem sentido, sem direção
Sem segurança, sem consistência
Só a beleza infantil da falta de compromisso
e da ingenuidade
A chama que flutua na noite escura
sem saber o que espera o amanhã
e que talvez deixará saudade...
E que me importa se nos destruirá com nossa própria chama?
Deixe-a ser linda até que decida
Se desaparecerá e retornaremos ao chão
Ou se nos levará ao inferno no fim de sua vida
Deixe que exista nossa paixão-balão
Tão bela e colorida pela noite escura
E deixe que essa chama leve-nos às alturas
Acabe ela agora ou só quando virarmos terra
Por teus braços
Por teus sorrisos
Por teus enlaços
Pelo teu descaso...
Pelo sumiço
Se esse sentimento é vazio, vão
é como um belo balão
Tão bonito e cheio de nada
que pode ir às alturas!
Mas veja, que logo sua chama acaba
Se extingue, desaparece
ou se mata
e queima o balão inteiro
(a própria chama o destrói)
Tua paixão é balão
Sem sentido, sem direção
Sem segurança, sem consistência
Só a beleza infantil da falta de compromisso
e da ingenuidade
A chama que flutua na noite escura
sem saber o que espera o amanhã
e que talvez deixará saudade...
E que me importa se nos destruirá com nossa própria chama?
Deixe-a ser linda até que decida
Se desaparecerá e retornaremos ao chão
Ou se nos levará ao inferno no fim de sua vida
Deixe que exista nossa paixão-balão
Tão bela e colorida pela noite escura
E deixe que essa chama leve-nos às alturas
Acabe ela agora ou só quando virarmos terra
segunda-feira, 8 de outubro de 2012
Preciso dizer-te, mascarado
Tudo pára, tudo cinza. A notícia que chega aos meus olhos não permanece ali; percorre minha espinha, meus braços, minhas pernas... Essas notícias me espancam tão suavemente que me ponho cansada sem perceber, quase sem dor... É como se me chamasse, dama sonolenta e dolorida, para dançar. Eu aceito; sou uma dama e não se nega uma dança. Essa dança da anestesia torna minhas mãos impotentes, meus olhos fugitivos, meus pés desvalidos. Sou só meu estômago agonizando o que surge na mente.
Minha boca, reunindo os últimos dos esforços, tenta avisar-te algo. É uma advertência que tento fazer de tempos em tempos, de maneira sutil, mas ela nunca torna-se clara. Diabos. Acontece que a coragem foi anestesiada junto com o coração, nessa dança anestésica dos outros sentidos. Hei de tentar: a verdade é que não sou uma dama, eu insisto. Eu odeio ter que ser uma dama. Eu odeio não poder ser uma dama. Talvez eu só não quisesse ser nada, me entende? Não enxergo seu rosto... Será que me entende? A responsabilidade é a sensação dolorosa da picada da vacina das obrigações... E eu odeio perder o controle do meu corpo através dessas malditas drogas. Eu odeio perder a razão, a minha razão, única capaz de me manter sã nesse maldito mundo no qual me colocaram sem que eu fosse humanamente consciente para recusar. Acho que estou tendo vertigens... São as drogas da obrigação que aplicaram em mim, com certeza. Já não sei como dizer-te porque já não sei o que é tudo isso... Não te enxergo...
Não consigo ver teu rosto porque há um neblina que torna nossos egos, da forma bruta, foscos, e difíceis de serem vistos. Eu tenho tanto amor por essa neblina porque ela se mostra tão bonita, misteriosa e funcional quando todos nós dançamos, e esconde meu rosto quando não visto a máscara da razão da expectativa, e tudo torna-se um ensaio. Um ensaio no qual, embora eu não seja completamente eu, abrimos canais humanos e simplórios da identificação. É o que eu digo, eu quero tirar a máscara, é o que eu mais quero! Mas o ego é um rosto disforme que, se nem ao menos viu um espelho, não merece ser visto pelos demais rostos mascarados. Nesse aventuroso baile, entre danças imprevisíveis, o vento sopra a nosso favor e abrem-se brechas nas neblinas onde trocamos olhares sinceros e egocêntricos, mesmo através de máscaras. Eis nosso canal humano, vívido, conveniente, cotidiano: lindo.
As vezes acabamos tomando as máscaras pelos egos, e, ora!, as máscaras são belas! Não são simples assim... É verdade que tu, se quiseres dançar mais de um vez com alguma dama ou um cavalheiro, ou quiseres dançar continuamente, vais conviver na maioria das vezes com a máscara. Mas, se a dança tomar uma sincronia e uma beleza surpreendentes, ou melhor, se os dançarinos estiverem maravilhados com a experiência que é a sua dança, então, rapaz, ouça o que te digo (os olhos de tão viciados entre si, entre lábios entreabertos de uma deliciosa experiência surpreendente, e a valsa em seu ritmo mais lento possível), as mãos se desatarão para começarem uma nova dança, e, em um ritmo milimetricamente sincronizado, com os olhos vidrados de paixão, tirarão rapidamente as máscaras do seu parceiro, verão seu rosto desfigurado e hão de compreendê-lo do jeito que são esses rostos - linda e tragicamente terríveis e vergonhosos! É um momento em que os egos, por detrás das máscaras, transformam-se e desfazem-se de seus sentimentos egocêntricos, buscando sintetizar naqueles sorrisos correspondentes, causados pelo compasso da dança, uma semelhança entre seus rostos, uma semelhança na formação deles, uma semelhança nos sentimentos de pudor e insegurança que os fizeram colocar as máscaras. Eles tentam se comunicar! Eles tentam conversar, não através de palavras, mas de gestos, sobre os questionamentos que fazem ao vestirem o rosto, questionamentos sobre quem são eles verdadeiramente e sobre aquilo que são as malditas máscaras. Conversam entre calculados gestos, num diálogo só de afirmações e revelações, sobre como queriam que alguém admirasse seus rostos e os compreendesse, não os julgasse.
As vezes as máscaras caem sem querer, e seu parceiro há de compreendê-la. Se não compreender e abandoná-lo na dança, significa que nem sabe que veste, ele mesmo, ele próprio!, uma máscara, e que um dia ela cairá. As máscaras caem, nós as tiramos. Mas é tolice negá-las, elas fazem parte de nós e são essenciais para continuarmos dançando e mantermos o baile.
Mas ainda não consegui que compreendesse minha advertência... Meu Deus, como é difícil! O que eu quero dizer-te é que as vezes, por dentre a neblina, tomamos a máscara pelo rosto nu, o que é um tremendo engano. As vezes julgamos que conhecemos e que adoramos todos os traços daquele rosto desmascarado. A mostra do rosto só é saudável quando há reciprocidade. Quando um julga amá-lo e o outro insiste que os dois estão mascarados, é provável que um tenha se embriagado, sozinho, com o vinho da ilusão e esteja percebendo a dinâmica à sua volta de maneira equivocada... É provável que um deles ainda não tenha entrado no compasso da dança e não se sinta completamente à vontade perante o canal que se abre dentre os olhares das frestas de neblina. É provável que não se sinta à vontade porque sabe a ressaca que o outro sofrerá no dia seguinte com demasiado vinho ilusionês de hoje, e sabe qual máscara vai representar esse porre. A própria.
Se os convidados do baile concedem a honra da dança, significa que querem se divertir, viver e ver uma fresta através da neblina, abrir o canal. Nem sempre é tão fácil, mas muitas vezes a dança se vale pela desafio de entrar no compasso. Eu como dançarina me esforço, e gosto desses olhares das brechas. Mas me sinto tremendamente intimidada quando julgam minha máscara pelo meu rosto.
Meu rosto não é de dama. Rosto nenhum é de dama. Rostos representam menos o gênero do que a máscara... Ou pelo menos representam o gênero de forma diferente como eles nos são apresentados nessa sociedade doida. Se não costumo mais ornamentar minha máscara fazendo-a parecer comum, direita, encaminhada, é que não vejo necessidade ao olhar-me com ela no espelho, mas não significa que seus defeitos são os da minha face. Esses defeitos que vês na máscara são superficiais, alternativos, dir-se-ia até que são opcionais; questão de gosto. Alguns até gostam. Mas não são meus reais defeitos; não estão presentes nela meus reais anjos e meus reais demônios.
Se vamos nos dispor a tentarmos alcançar o rosto, deixemos o vinho da futura decepção de lado e tiremos esse brilho no olhar. Tenhamos calma, e desapeguemo-nos dessas máscaras egocêntricas que são consequência da vergonha do nosso rosto desfigurado. Admitamos: não somos cavalheiros e nem damas; somos homens. Mas é um processo vagaroso e demorado, e confesso que não tenho força o suficiente para assumí-lo. Não por essas injeções e pancadas (não só por esses fatores anestésicos); eles, se fossem comparados à minha vontade de seguir esse caminhos, seriam nada. Ou talvez sejam eles que dificultem sim, mas a força ainda não veio em mim, à tona, capaz de ignorar essas apunhaladas pelas costas que eu mesma me dou.
Dispenso aqui qualquer juízo de afeição; apesar de estar bem, minha cabeça dói, e tudo nela é processado com uma frieza objetiva, que só pretende esclarecer as coisas, sem cunho emocional. Estou sã. Qualquer vertigem e efeito passou. Só quero que saiba que não sou uma dama, e não me reconheço unicamente pela máscara. Sei que possuo um rosto, e estou tentando descobrí-lo. Primeiro, sozinha.
Minha boca, reunindo os últimos dos esforços, tenta avisar-te algo. É uma advertência que tento fazer de tempos em tempos, de maneira sutil, mas ela nunca torna-se clara. Diabos. Acontece que a coragem foi anestesiada junto com o coração, nessa dança anestésica dos outros sentidos. Hei de tentar: a verdade é que não sou uma dama, eu insisto. Eu odeio ter que ser uma dama. Eu odeio não poder ser uma dama. Talvez eu só não quisesse ser nada, me entende? Não enxergo seu rosto... Será que me entende? A responsabilidade é a sensação dolorosa da picada da vacina das obrigações... E eu odeio perder o controle do meu corpo através dessas malditas drogas. Eu odeio perder a razão, a minha razão, única capaz de me manter sã nesse maldito mundo no qual me colocaram sem que eu fosse humanamente consciente para recusar. Acho que estou tendo vertigens... São as drogas da obrigação que aplicaram em mim, com certeza. Já não sei como dizer-te porque já não sei o que é tudo isso... Não te enxergo...
Não consigo ver teu rosto porque há um neblina que torna nossos egos, da forma bruta, foscos, e difíceis de serem vistos. Eu tenho tanto amor por essa neblina porque ela se mostra tão bonita, misteriosa e funcional quando todos nós dançamos, e esconde meu rosto quando não visto a máscara da razão da expectativa, e tudo torna-se um ensaio. Um ensaio no qual, embora eu não seja completamente eu, abrimos canais humanos e simplórios da identificação. É o que eu digo, eu quero tirar a máscara, é o que eu mais quero! Mas o ego é um rosto disforme que, se nem ao menos viu um espelho, não merece ser visto pelos demais rostos mascarados. Nesse aventuroso baile, entre danças imprevisíveis, o vento sopra a nosso favor e abrem-se brechas nas neblinas onde trocamos olhares sinceros e egocêntricos, mesmo através de máscaras. Eis nosso canal humano, vívido, conveniente, cotidiano: lindo.
As vezes acabamos tomando as máscaras pelos egos, e, ora!, as máscaras são belas! Não são simples assim... É verdade que tu, se quiseres dançar mais de um vez com alguma dama ou um cavalheiro, ou quiseres dançar continuamente, vais conviver na maioria das vezes com a máscara. Mas, se a dança tomar uma sincronia e uma beleza surpreendentes, ou melhor, se os dançarinos estiverem maravilhados com a experiência que é a sua dança, então, rapaz, ouça o que te digo (os olhos de tão viciados entre si, entre lábios entreabertos de uma deliciosa experiência surpreendente, e a valsa em seu ritmo mais lento possível), as mãos se desatarão para começarem uma nova dança, e, em um ritmo milimetricamente sincronizado, com os olhos vidrados de paixão, tirarão rapidamente as máscaras do seu parceiro, verão seu rosto desfigurado e hão de compreendê-lo do jeito que são esses rostos - linda e tragicamente terríveis e vergonhosos! É um momento em que os egos, por detrás das máscaras, transformam-se e desfazem-se de seus sentimentos egocêntricos, buscando sintetizar naqueles sorrisos correspondentes, causados pelo compasso da dança, uma semelhança entre seus rostos, uma semelhança na formação deles, uma semelhança nos sentimentos de pudor e insegurança que os fizeram colocar as máscaras. Eles tentam se comunicar! Eles tentam conversar, não através de palavras, mas de gestos, sobre os questionamentos que fazem ao vestirem o rosto, questionamentos sobre quem são eles verdadeiramente e sobre aquilo que são as malditas máscaras. Conversam entre calculados gestos, num diálogo só de afirmações e revelações, sobre como queriam que alguém admirasse seus rostos e os compreendesse, não os julgasse.
As vezes as máscaras caem sem querer, e seu parceiro há de compreendê-la. Se não compreender e abandoná-lo na dança, significa que nem sabe que veste, ele mesmo, ele próprio!, uma máscara, e que um dia ela cairá. As máscaras caem, nós as tiramos. Mas é tolice negá-las, elas fazem parte de nós e são essenciais para continuarmos dançando e mantermos o baile.
Mas ainda não consegui que compreendesse minha advertência... Meu Deus, como é difícil! O que eu quero dizer-te é que as vezes, por dentre a neblina, tomamos a máscara pelo rosto nu, o que é um tremendo engano. As vezes julgamos que conhecemos e que adoramos todos os traços daquele rosto desmascarado. A mostra do rosto só é saudável quando há reciprocidade. Quando um julga amá-lo e o outro insiste que os dois estão mascarados, é provável que um tenha se embriagado, sozinho, com o vinho da ilusão e esteja percebendo a dinâmica à sua volta de maneira equivocada... É provável que um deles ainda não tenha entrado no compasso da dança e não se sinta completamente à vontade perante o canal que se abre dentre os olhares das frestas de neblina. É provável que não se sinta à vontade porque sabe a ressaca que o outro sofrerá no dia seguinte com demasiado vinho ilusionês de hoje, e sabe qual máscara vai representar esse porre. A própria.
Se os convidados do baile concedem a honra da dança, significa que querem se divertir, viver e ver uma fresta através da neblina, abrir o canal. Nem sempre é tão fácil, mas muitas vezes a dança se vale pela desafio de entrar no compasso. Eu como dançarina me esforço, e gosto desses olhares das brechas. Mas me sinto tremendamente intimidada quando julgam minha máscara pelo meu rosto.
Meu rosto não é de dama. Rosto nenhum é de dama. Rostos representam menos o gênero do que a máscara... Ou pelo menos representam o gênero de forma diferente como eles nos são apresentados nessa sociedade doida. Se não costumo mais ornamentar minha máscara fazendo-a parecer comum, direita, encaminhada, é que não vejo necessidade ao olhar-me com ela no espelho, mas não significa que seus defeitos são os da minha face. Esses defeitos que vês na máscara são superficiais, alternativos, dir-se-ia até que são opcionais; questão de gosto. Alguns até gostam. Mas não são meus reais defeitos; não estão presentes nela meus reais anjos e meus reais demônios.
Se vamos nos dispor a tentarmos alcançar o rosto, deixemos o vinho da futura decepção de lado e tiremos esse brilho no olhar. Tenhamos calma, e desapeguemo-nos dessas máscaras egocêntricas que são consequência da vergonha do nosso rosto desfigurado. Admitamos: não somos cavalheiros e nem damas; somos homens. Mas é um processo vagaroso e demorado, e confesso que não tenho força o suficiente para assumí-lo. Não por essas injeções e pancadas (não só por esses fatores anestésicos); eles, se fossem comparados à minha vontade de seguir esse caminhos, seriam nada. Ou talvez sejam eles que dificultem sim, mas a força ainda não veio em mim, à tona, capaz de ignorar essas apunhaladas pelas costas que eu mesma me dou.
Dispenso aqui qualquer juízo de afeição; apesar de estar bem, minha cabeça dói, e tudo nela é processado com uma frieza objetiva, que só pretende esclarecer as coisas, sem cunho emocional. Estou sã. Qualquer vertigem e efeito passou. Só quero que saiba que não sou uma dama, e não me reconheço unicamente pela máscara. Sei que possuo um rosto, e estou tentando descobrí-lo. Primeiro, sozinha.
sexta-feira, 5 de outubro de 2012
brincadeiras experimentais
IV
Não seria assim tão mal
ser matemática e pensar como tal
Pensar em mim mesma, então
como uma previsível equação
Tudo exato e metódico
Buscando apenas a solução
Poderia não saber o caminho
mas saberia que ele existe
E só por ter um ideal, e seguí-lo
Não me poria assim,tão triste
III
Tua idealização é castelo de areia
desmoronará com ondas da verdade
Do impiedoso mar que é o tempo
que de consolo só deixa saudade
Cada grão que monta o belo castelo
nesta instável e frágil construção
gosta de ir sempre dançando
é volátil toda ilusão
II
Deduzi então que desistiu de mim
das minhas dunas de frívola afeição
do meu deserto tão caloroso e quieto
do meu sorriso seco perdido no sertão
Sabes que lhe convém voar pra cá
Fazer-se água e aparecer como miragem
mas em vez queres ser japim para voar
e saciar minha sede já não tens vontade
I
São teus beijos que inflam meu ego
e iludo-te dando esperança
Fingimos tão bem sermos cegos
sorrindo e prosseguindo a dança
Paciência é teu nome do meio
motivado por lábios e mãos
Luxuriosa esperança tão tola
Fantasias que vem em vão
Gostaria que fosses poeta
apaixonasse mesmo sem amor
pois amar apenas os meus beijos
faz de ti meu amor sem valor
quinta-feira, 4 de outubro de 2012
Se eu talvez
Se eu talvez parasse para observar
durante um segundo
enquanto choviam gotas de flores
sonhos de pétalas por cada instante do meu corpo...
Eu sorriria.
Sorriria e veria que talvez eu pudesse ser tudo e
Meu Deus!
Quão grande é a alma dos que tem a mente pequena?
Quanta angústia tem na alma daqueles de mente grande?
Já não sabemos discernir as emoções e que rumos daremos a elas...
Talvez se as plantássemos...
Não destruiriam nosso solo?
E se as deixássemos esperando com um olhar de adeus
e um lenço bordado nas mãos,
enquanto iríamos para a guerra?
Que tal brincarmos de sermos nossos pais para sempre?
Que tal brincarmos de sermos normais
e no segundo final trocarmos um único olhar
E então saberemos que somos aquilo que não quisermos ser
Ou que não queriam que nós fôssemos...
Esperá-la chegar e levar-me
como alguém que viveu
Como alguém que existiu e permanece na existência
Enquanto não me importo em gastar-me em vida agonizante
Estamos sozinhos?
para minha irmã
durante um segundo
enquanto choviam gotas de flores
sonhos de pétalas por cada instante do meu corpo...
Eu sorriria.
Sorriria e veria que talvez eu pudesse ser tudo e
Meu Deus!
Quão grande é a alma dos que tem a mente pequena?
Quanta angústia tem na alma daqueles de mente grande?
Já não sabemos discernir as emoções e que rumos daremos a elas...
Talvez se as plantássemos...
Não destruiriam nosso solo?
E se as deixássemos esperando com um olhar de adeus
e um lenço bordado nas mãos,
enquanto iríamos para a guerra?
Que tal brincarmos de sermos nossos pais para sempre?
Que tal brincarmos de sermos normais
e no segundo final trocarmos um único olhar
E então saberemos que somos aquilo que não quisermos ser
Ou que não queriam que nós fôssemos...
Esperá-la chegar e levar-me
como alguém que viveu
Como alguém que existiu e permanece na existência
Enquanto não me importo em gastar-me em vida agonizante
Estamos sozinhos?
para minha irmã
Poema do luto
Não chorei por amares Maria
Nem mesmo chorei por me enganares durante tanto tempo
Não chorei pelos meus gritos secos
E não gritei pelo desespero
(de não te ter)
Não chorei pela perda
Não chorei por ti
Não chorei sequer pelo que fizeste comigo
Não chorei por tua crueldade
Não chorei por tuas atitudes desumanas
Não chorei pelos homens
(Já era previsível.)
Chorei por mim.
Não chorei pelo coração ensanguentado,
mas sim por perceber que era minha mão que segurava a navalha
Era minha mão que o executava
E agora, nesse milésimo de segundo de consciência
era ela mesma que poderia salvar-lhe a pele
Sanar-lhe a carne.
Chorei por mim.
Chorei pelo sacrifício da minha própria criança
Chorei pelo rubor e pela vergonha
(que nunca foi vergonha
logo tornou-se calma)
Chorei, chorei, chorei
Para respirar e, depois, na calmaria
sorrir.
E esperei pela próxima ilusão.
terça-feira, 2 de outubro de 2012
Massacre do tempo
Massacra-me o tempo:
Obriga-me à consciência
Leva embora a inocência
Esquece-se do que há por dentro
Espreme-me o tempo:
Faz-me passar pelas frestas
tão estreitas do entendimento,
provando da vida as arestas
Tempo é pura correnteza
e toda gota salgada
é um instante de cada
movendo o mar e a areia
Lágrimas do esquecimento
Do que o tempo nos causa
Do que nos leva com o vento
Provoca e esconde o tormento
O tempo tem tom travesso
Gargalha sem piedade
da agonia da nostalgia
daqueles que tem saudade
O tempo é bom professor
Faz-nos aprender sozinhos
sempre seguindo o caminho
a conhecer e esquecer o amor
Já vi que o tempo passou
e enquanto me distraía
o tempo tocava minha vida
e eu chorava e eu sorria
Meu tempo, minha certeza
só peço que deixe saudade
nossa antiga felicidade
Fotografia sobre a mesa
Obriga-me à consciência
Leva embora a inocência
Esquece-se do que há por dentro
Espreme-me o tempo:
Faz-me passar pelas frestas
tão estreitas do entendimento,
provando da vida as arestas
Tempo é pura correnteza
e toda gota salgada
é um instante de cada
movendo o mar e a areia
Lágrimas do esquecimento
Do que o tempo nos causa
Do que nos leva com o vento
Provoca e esconde o tormento
O tempo tem tom travesso
Gargalha sem piedade
da agonia da nostalgia
daqueles que tem saudade
O tempo é bom professor
Faz-nos aprender sozinhos
sempre seguindo o caminho
a conhecer e esquecer o amor
Já vi que o tempo passou
e enquanto me distraía
o tempo tocava minha vida
e eu chorava e eu sorria
Meu tempo, minha certeza
só peço que deixe saudade
nossa antiga felicidade
Fotografia sobre a mesa
Dinâmica do físico
Nossa fusão sempre foi física
porque todo interesse é estético
Caso sistemático da cinemática
que de estático só tem o sentimento
O ilógico olhar que é tão lindo
sem ao menos um fútil fundamento
é amável coração com fundo falso
que para mim não possui preenchimento
Qualidades de um gostar apenas sólido
Sem amor, sem horror, sem pensamento
Realizando o que é só biológico
Ignorando o humano e o tormento
Cada vão movimento que fazemos
É tão doce e é tão complementar
É uma dança, é uma canção à dois
Em um ação-reação em par
porque todo interesse é estético
Caso sistemático da cinemática
que de estático só tem o sentimento
O ilógico olhar que é tão lindo
sem ao menos um fútil fundamento
é amável coração com fundo falso
que para mim não possui preenchimento
Qualidades de um gostar apenas sólido
Sem amor, sem horror, sem pensamento
Realizando o que é só biológico
Ignorando o humano e o tormento
Cada vão movimento que fazemos
É tão doce e é tão complementar
É uma dança, é uma canção à dois
Em um ação-reação em par
A dor incomunicável
pequena brincadeira na tentativa de dar ritmo e humor a qualquer dor
A dor é minha,
Intransferível
Não há quem possa
compartilhar
O vazio interno,
Inenarrável
Mesmo que eu tente
me explicar
A sua cura
não sei de fato
Mas sei, só eu
posso criar
Não é com a erva
que vem do mato
que o coração
vai se curar
O pássaro branco do acaso
O pássaro branco do acaso
puxou o laço de fita cor-de-rosa que prendia o meu cabelo
Não percebi
Quando me vi já estava descabelada
Já não havia mais ordem, doçura ou candura em meu rosto
Eu cresci
O rubor infantil e os olhares ao léu transformaram-se nas
[lamentações de viver
e na alegria em estar vivo
Tudo isso graças a um maldito pássaro...
Eu o agradeço!
A benção da desordem me levou a mim mesma
Me trouxe a vida
Me trouxe à vida
A travessura do pássaro me fez sentir meus cabelos
(Quem sabe não fui eu que havia o chamado?)
Se não fosse o bendito pássaro,
nunca saberia como também sou bela de cabelos soltos
Apesar da inocência ser nostálgica...
Uma vez sem o laço,
nunca mais prenderás o cabelo!
A ingenuidade é um rabo de cavalo.
puxou o laço de fita cor-de-rosa que prendia o meu cabelo
Não percebi
Quando me vi já estava descabelada
Já não havia mais ordem, doçura ou candura em meu rosto
Eu cresci
O rubor infantil e os olhares ao léu transformaram-se nas
[lamentações de viver
e na alegria em estar vivo
Tudo isso graças a um maldito pássaro...
Eu o agradeço!
A benção da desordem me levou a mim mesma
Me trouxe a vida
Me trouxe à vida
A travessura do pássaro me fez sentir meus cabelos
(Quem sabe não fui eu que havia o chamado?)
Se não fosse o bendito pássaro,
nunca saberia como também sou bela de cabelos soltos
Apesar da inocência ser nostálgica...
Uma vez sem o laço,
nunca mais prenderás o cabelo!
A ingenuidade é um rabo de cavalo.
Do museu de arte contemporânea
Caio nas tuas notas manchadas de Sol
Luz que acende e cega e se desdobra num sorriso
São as ondas claras do teu olhar ensolarado
A expectativa que traz sabor aos sentidos
Entendi que a tarde era mesmo azul
A leveza do céu reflete-se no mar
Como reflete o anseio no homem, que é
A vontade de ter onde não se pode chegar
Os beijos são aquelas estranhas obras que vejo
Não pense! Não se entende! Se vê e se sente
São as obras do artista que se chama desejo
E o corpo é ator que interpreta a mente
O vento calmo que acaricia o rosto
É a alegria discreta que não vais perceber
É lembrança futura do início de agosto
Que ainda não sabes, mas não vais esquecer
Nota introdutória
Primeira nota aos bem dispostos que decidirem se aventurar por esses textos quase inúteis
Começo esse projeto de nada, essa tentativa da exposição de um pedaço interno meu, com algumas breves advertências.
É muito provável, até por ser algo natural, o julgamento, através dos textos, da que vos fala: creio que seja um equívoco dos que o fazem, não só por considerar o julgamento uma imprudência visto que nenhum homem é digno de julgar outro enquanto não se encontra nas mesmas circunstâncias deste (como próprio homem, excluo daqui autoridades que zelam pelo excelente convívio harmônico desta nossa ilustre sociedade), mas pelo simples fato de que não vem exatamente de mim, Luiza Carvalho, esses textos aqui presentes, mas de facetas minhas, eu-líricos meus que são muitas vezes espontâneos, instantâneos, momentâneos.
É inegável que haja uma identificação entre a minha pessoa e eles, ora essa, eles surgiram de mim! Eu os criei. Mas por serem frutos de sentimentos pulsantes, que outrora entalaram minha garganta e imploraram-me que os transformasse seja em prosa, poesia, ideias, são muitas vezes exagerados, dramáticos, raivosos, talvez sutis demais, meigos, apaixonados, apaixonados! São febris de paixão esses sentimentos geralmente efêmeros, filhos de crises existenciais e dúvidas que permanecem, e muito provavelmente permanecerão. Eu deixo que se manifestem, dou-lhes a voz, mas não significa que eu mesma os creia ou creia que tenha neles algum sentido. Eu apenas dou liberdade às minhas sensações, para que alguma razão que haja em mim disseque-as e tente tirar disso reflexões, epifanias, novos sentimentos, e assim novas sensações. E permaneço meio assim. (Assim como mesmo?)
Explico ainda meu pequeno título: Na verdade não há o que se explicar. Esses últimos meses vem me provando que quanto mais consciência, mais dor. Orgulhemo-nos de sermos ingênuos; agradeço minha ingenuidade e lamento (lamento?) minha insignificância perante a... A isso tudo.
Felizes daqueles que não entendem nada. Feliz de mim, mesmo sem entender que ainda o sou... Afinal, tudo é questão de referencial.
Começo esse projeto de nada, essa tentativa da exposição de um pedaço interno meu, com algumas breves advertências.
É muito provável, até por ser algo natural, o julgamento, através dos textos, da que vos fala: creio que seja um equívoco dos que o fazem, não só por considerar o julgamento uma imprudência visto que nenhum homem é digno de julgar outro enquanto não se encontra nas mesmas circunstâncias deste (como próprio homem, excluo daqui autoridades que zelam pelo excelente convívio harmônico desta nossa ilustre sociedade), mas pelo simples fato de que não vem exatamente de mim, Luiza Carvalho, esses textos aqui presentes, mas de facetas minhas, eu-líricos meus que são muitas vezes espontâneos, instantâneos, momentâneos.
É inegável que haja uma identificação entre a minha pessoa e eles, ora essa, eles surgiram de mim! Eu os criei. Mas por serem frutos de sentimentos pulsantes, que outrora entalaram minha garganta e imploraram-me que os transformasse seja em prosa, poesia, ideias, são muitas vezes exagerados, dramáticos, raivosos, talvez sutis demais, meigos, apaixonados, apaixonados! São febris de paixão esses sentimentos geralmente efêmeros, filhos de crises existenciais e dúvidas que permanecem, e muito provavelmente permanecerão. Eu deixo que se manifestem, dou-lhes a voz, mas não significa que eu mesma os creia ou creia que tenha neles algum sentido. Eu apenas dou liberdade às minhas sensações, para que alguma razão que haja em mim disseque-as e tente tirar disso reflexões, epifanias, novos sentimentos, e assim novas sensações. E permaneço meio assim. (Assim como mesmo?)
Explico ainda meu pequeno título: Na verdade não há o que se explicar. Esses últimos meses vem me provando que quanto mais consciência, mais dor. Orgulhemo-nos de sermos ingênuos; agradeço minha ingenuidade e lamento (lamento?) minha insignificância perante a... A isso tudo.
Felizes daqueles que não entendem nada. Feliz de mim, mesmo sem entender que ainda o sou... Afinal, tudo é questão de referencial.
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