sexta-feira, 2 de março de 2018

Excesso

Só a poesia tem espaço suficiente pra solidão
Ela não cabe nas ações cotidianas
não cabe na cama
não cabe no sexo
Ela não cabe no meu desejo de cheirar a nuca
Ela não cabe de jeito nenhum
nesse lençol desbotado e frouxo
que não cumpre a sua função
e não forra a cama
E não cabe nessa sensação incômoda
do contato da pele direto no colchão

Aí a solidão não cabe no quarto
nem no computador do escritório
nem em livro, nem em lágrima
Ela quase coube nessa paisagem feia que vejo da minha janela:
o breu dos apartamentos estáticos às duas da manhã
essa luz amarela feia e turva dos postes

E desde então eu venho tentando encontrar lugar
na marra
pra essa solidão
mas acho que pra poema ruim
ela também excede de tamanho.