quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

tentativa

em processo

Te descobri ao longe,
eras apenas uma imagem:
docilmente plantado na terra móvel,
terra volátil,
terra tão inconstante que, por final,
tinha solo infrutífero.

Nada mais poderia germinar daquele cenário.

Eras tu,
era eu,
era imensidão árida
cuidada pelo ar seco
tocada,
torrada pelo sol que mantinha a vida
de coisas já vivas.

Minha realidade era tranquila
por crer dominar todas as existências,
pela clareza que me era dada pelo lumiar solar.

Por estares distante de mim
era apenas imagem agradabilíssima
intocável
indefesa
que compunha magistralmente a paisagem atemporal
e indiferentemente bela.

Mas no meu corpo que era só olhos,
meu coracão foi ganhando espaco,
e latejando num compasso intenso
descongelou a ampulheta da minha consciência.

Cada grão de instante
experiência emotiva e sensorial
fluxo de acontecimentos interiores
num piscar de olhos,
de uma âmbula para a outra,
matando progressivamente o futuro,
transformando-o inevitavelmente em passado
extinguindo o fôlego.

Haveria o tempo que passou me diminuído?
Ou foste tu?
que me escapou dos olhos
e tão rapidamente eras enorme,
mas tão enorme
que cada traco teu
era carinhosamente ameacador
e toda tua grandeza
exalava uma hostilidade eternamente amável

Limitava-me a contemplar:
perdia-me em êxtase
na densidade extensa,
na intensidade palpável
da tua figura divina.

Não foste tu que crescestes!
mas o tempo que passara
eu, hipnotizada,
vinha a teu encontro
e quando dei-me por mim
estávamos a um centímetro do tato.

e tu eras toda a minha paisagem
e eu não era nada

Permanecestes imóvel
mas, telepaticamente,
dizia-me com furor:

decifra-me ou devoro-te.

Como decifrar um corpo incorruptível
que mesmo sob o sol mais escaldante
permanece estático,
com olhar petrificado?

Como decifrar um corpo sem reacão,
sem a mais ínfima maleabilidade
perante meus suspiros de admiracão?

Não eras tu que me devoravas
com o inacesso de tua essência;
mas era eu mesma que me desfazia
que agonizava o teu silêncio
tua pose fria diante do deserto do meu peito...

Finalmente, esfinge,
talvez não sintas nada
talvez só fosses pedra
talvez só sejas totem
diante da radiacão do meu amor.

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